Médici: a reforma incompleta (2011)
Anderson da Silva Almeida [1]
“O povo que não conhece sua história está condenado a repetir seus erros ”
No
último domingo acompanhei a partida entre o nosso tricolor da serra e a
equipe do estanciano, como parte dos “festejos” de reabertura do nosso
Estádio. Sentado na arquibancada, ouvia atentamente meus amigos de
torcida destacar aspectos que prendiam a atenção de cada um. Alguns,
hipnotizados pelo placar eletrônico, acompanhavam concentradamente a
escalação da equipe, nome a nome. Outros, mais atentos aos pormenores,
vislumbravam a rede tricolor, uniformemente confeccionada nas cores do
tremendão. Um detalhe quase imperceptível. Um terceiro grupo, menos
atento, reclamava do uniforme da equipe: “Oxi, quem foi o doido (ou
doidjo) que mandou fazer essa camisa branca? Tricolor tem que jogar de
tricolor” – diziam. No entanto, eu não tirava da mente outra coisa –
aquele nome que vi na parte externa logo atrás do toldo de onde falava o
governador: Estádio Presidente Médici.
Igual a você, prezado leitor e prezada leitora, também estou acostumado
com o nome. Cresci ouvindo no rádio e nas ruas o nome do Médici. Foi
difícil e até traumático quando descobri quem realmente era aquele homem
que dá nome à maior praça esportiva do interior sergipano. Por isso,
devo confessar, que embora estivesse empolgado com a reforma, não estava
completamente feliz. Fiquei imaginando como eram os gritos dos
torturados quando o tal presidente, o general-ditador Médici, comandava o
nosso alegre e triste Brasil. Fiquei visualizando as mães procurando
seus filhos e filhas nas delegacias, nos quartéis, nos IMLs, nas listas
de desaparecidos, porque seus rebentos discordavam que o país vivesse
sob censura; porque discordavam de não ter o direito de votar; porque
discordavam que seus professores fossem demitidos, presos e mandados
para fora do país. Imaginei as crianças órfãs de pais vivos e as
mulheres viúvas de maridos “desaparecidos”. Não me sai da cabeça que em
nossa cidade há uma homenagem a um ditador, lembrado como o mais cruel e
desumano entre todos.
Itabaiana que
se orgulha de seu povo inteligente, apaixonado pela política, pela
democracia, não tem muito que se orgulhar dessa homenagem. A Itabaiana
que se orgulha do seu tremendão da serra, das três cores que em síntese
significam igualdade, liberdade e fraternidade, não deve e não
pode trazer em seu coração uma lembrança de um tempo no qual esses três
princípios foram barbaramente agredidos! Ninguém é obrigado a saber
dessa história, mas no momento em que o conhecimento é difundido e o
passado vem ao presente, louco para ser discutido, questionado,
problematizado, todos estão convidados a participar da História, sob
pena dela se repetir da pior forma possível.
Enquanto a homenagem estiver lá, o Estádio – que ouso a apelidar de Arena da Serra ou Caldeirão Tricolor - continuará com sua reforma incompleta”!
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