A polêmica "Médici" (2010)
MÉDICI: o Estádio, o homem e o tempo – reflexões sobre uma polêmica necessária
Anderson da Silva Almeida[1]
Há
poucos dias tenho percebido um tímido movimento de setores políticos da
sociedade sergipana e parte da imprensa - mais notadamente, a esportiva
- em relação a uma possível mudança no nome do Estádio Presidente
Médici, em nossa cidade. Surpreendentemente, quando a praça esportiva
passa por uma grande reforma e a reabertura é aguardada ansiosamente, o
debate ainda não ganhou fôlego e não empolga a parte mais interessada:
os cidadãos itabaianenses. Por quê? Estariam mesmo os “ceboleiros” e
sergipanos interessados em enfrentar o “problema”? Seria importante
substituir o nome do homenageado? A comunidade apóia a mudança? Para
tentar contribuir com o incipiente debate, acho necessário pensarmos
sobre algumas questões que envolvem a polêmica.
Inaugurado
em março de 1971, o nome do Estádio foi uma homenagem ao general que
comandava o Brasil na época. Médici era o terceiro ditador do regime
civil-militar instalado em abril de 1964 e ditou os rumos da política
nacional - auxiliado e assessorado por muitos políticos, pensadores,
empresários e a grande mídia - entre os anos 1969-1974. Comumente
lembrado pelas esquerdas como “os anos de chumbo”, o governo Médici
também foi o tempo do “milagre econômico”, da vitória da copa de 1970,
das comemorações dos 150 anos da Independência, do “ninguém segura esse
país”.
Para os que viveram o período como anos de chumbo,
foi a época das torturas, das mortes, dos desaparecimentos. Foi o
período dos gritos nos “porões”, das sevícias, do sangue derramado, do
pau-de-arara, dos choques, afogamentos, dos filhos órfãos, das mães em
luto, dos jovens em luta.
E a
sociedade itabaianense, sergipana e brasileira que viveu ou não o
período, o que acha daquele tempo, da homenagem no Estádio, da mudança
de nome? Pelo que parece, as organizações classistas, a Igreja, a
Maçonaria, o Rotary Club, CDL, Sincatos, Câmara de Vereadores,
esportistas, estudantes, professores, Associações comunitárias e a mídia
– salvo raras exceções - continuam indiferentes. Dessa forma, como
naquele tempo, a zona cinzenta da “neutralidade” parece que continua a
esperar para onde soprarão os ventos. Enquanto isso, o Estádio
Presidente Médici, muito mais que apenas um Estádio e um nome,
continuará um lugar de memória, lembrando um tempo de ouro ou de chumbo.
Definir qual dos adjetivos prevalecerá será uma tarefa coletiva e um
indicativo das escolhas da sociedade ceboleira. Se a opção for pela
mudança, o que espero, o “novo” nome terá tanta importância quanto o
atual, pois, certamente, a história cobrará no futuro o seu merecimento.
Que o diga Emilio Garrastazu Médici, o ditador-presidente.
GOIS, Manoel Aelson. Associação Olímpica de Itabaiana – tremendão da serra: da gênese ao penta (1938 a 1983). Itabaiana: Info Graphics, 2010, p.150.
REIS FILHO, Daniel Aarão. Ditadura militar, esquerdas e sociedade. 3ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
[1]Publicado originalmente no site: www.itnet.com.br em 28/12/2010.
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