SOFIVA EM PORTUGAL: Crônica da viagem "impossível"




 DOIS PAÍSES, DUAS BANDAS. UM SOM![1]
SOFIVA conquista Portugal e orgulha o povo itabaianense
(Crônica da viagem “impossível”)

José de Oliveira Filho
Natan Carvalho


Quem diria uma filarmônica de Sergipe estar em um intercâmbio em Portugal, na Europa? Pois é, a nossa SOFIVA – Sociedade Filarmônica 28 de Agosto – da querida Itabaiana, uma das mais novas filarmônicas do Brasil, com sete anos de existência, mostrou que esse sonho pode ser realizado: “um grupo de amigos que muito se preocupa em fazer música”, como diz nosso presidente Anderson Almeida. Esse grupo de amigos uniu-se, arregaçou as mangas e “não sabendo que era impossível, foi lá e fez” (Jean Cocteau).
Tudo isso começou na Jornada Pedagógica para Músicos de Banda, organizada pelo professor da UFAL Dr. Marcos Moreira, realizada na cidade de Laranjeiras-SE, em 2015. Lá estava o maestro Arnaldo Costa, regente há quase vinte anos da Banda Velha União Sanjoanense, da freguesia de São João de Loure, Portugal. Segundo relatos do mesmo, encantou-se com a maneira divertida e animada de fazer música da SOFIVA. Ficou curioso pelo ‘tamborzinho’ tocado por Adilson, nosso percussionista e um dos diretores. Ora, essa curiosidade e desejo de possuir um para a banda que regia não foi esquecido pela SOFIVA.  “Que instrumento é esse?” perguntou o maestro. Vocês saberão logo mais.
O sonho do professor Marcos Moreira e do maestro Arnaldo Costa de realizar um intercâmbio entre uma filarmônica brasileira e uma portuguesa foi agarrado pela SOFIVA, em maio de 2018. A instituição musical não mediu esforços e foi em busca de patrocínios em diversos setores da sociedade itabaianense e sergipana para levar seus alunos/músicos numa experiência que, com certeza, transformou a vida de cada integrante dessa viagem. Alguns arcaram com suas próprias passagens e os demais conseguiram através da arrecadação de rifas e doações de várias pessoas da sociedade. A Filarmônica 28 de Agosto conseguiu embarcar 28 pessoas! Que número sugestivo e especial! Destino ou Coincidência?
Apesar das desconfianças daqueles que acham ou achavam que essa viagem seria um luxo, passeio e vaidade, a SOFIVA mostrou, entre os dias 12 e 20 de novembro de 2018, que intercâmbio é convívio, é troca de experiências social, musical e cultural entre dois países, sendo possível através de uma programação diária feita pela direção da Banda Velha União Sanjoanense (BVUS), em nome de sua presidente Etelvina Almeida. Sobrenomes dos presidentes iguais. Destino ou Coincidência?
BVUS&SOFIVA! Que comece o intercâmbio...
Viajar de avião foi a primeira vez para muitos. Os medos, as noites sem dormir, as dúvidas não faltaram. Como é bom e enriquecedor sairmos de nossa zona de conforto e superar desafios! O nosso presidente Popó que o diga. Antes do embarque em Salvador, não conseguia tirar seu cinto da calça. Como vai passar no detector de metais? O espírito de filarmonia (philos= amigo, harmonikos=harmonia) entrou em ação. Os amigos não o deixaram só e conseguiram tirar seu cinto. Até a chegada em Portugal, cada detalhe de check-in, despacho de bagagens, orientação aérea da empresa, passagem na imigração foi vivido intensamente pelos 28 sofiveiros. Entre eles, pessoas de faixa etária entre 10 e 60 anos, profissionais de vários setores, estudantes de escola públicas municipais, estaduais e privadas, alunos de vários bairros da cidade, como Gilton Garcia (Mutirão) e Miguel Teles de Mendonça (bairro da Torre).
O dia 12 foi marcado pela recepção na sede da BVUS, na freguesia de São João de Loure. Foi-nos apresentado o programa de cada dia do intercâmbio. Ficamos impressionados pelos quadros, fotos, troféus e espaço da sede da banda portuguesa. Logo após, fomos apresentados a cada família que acolheu cerca de três a quatro membros da SOFIVA em suas residências. Encerrada a noite, foi-nos oferecido vinho do Porto e lanche. Ficamos maravilhados pela acolhida dos portugueses. Não mediram esforços em cada refeição, nos transportes, na dormida, em nos dar atenção através de conversas e mostrar seus costumes. Chegavam até a acordar às 4h da manhã para aprontar o nosso almoço e depois ir trabalhar. Muitos dias eram marmitas que continham frases como “vocês nos ensinam a sambar?” Foram bastante simpáticos.
O dia 13 foi marcado por um fato doloroso: o velório do pai do maestro Arnaldo Costa. A SOFIVA prestou sua solidariedade ao amigo e somou forças nesse momento tão difícil. Acompanhamos a cerimônia fúnebre e o cortejo da banda até o sepultamento de seu saudoso pai Fernando Costa, compositor de grandes paso dobles (de onde originou nosso dobrado) a exemplo da obra Filarmonia e de Lelita, o qual tivemos a honra de interpretar.
Portugal é considerado o maior consumidor de bacalhau salgado no mundo. Durante o dia 14, fomos conhecer uma das fontes históricas para tal denominação: o Navio-Museu Santo André que fica em Ílhavo. Conhecemos as peculiaridades da história e de cada parte do navio.
Na noite do dia 14, fizemos nosso primeiro ensaio na sede da BVUS. O frio era um elemento que tínhamos de superar, principalmente, no tocante à afinação dos instrumentos, pois não estávamos acostumados com temperaturas de, aproximadamente, 12ºC. Trabalhamos bastante acordes em determinados trechos das peças e em naipes. Ensaiamos o repertório de forró. Alguns músicos da BVUS ensaiaram conosco em instrumentos de percussão (zabumba, triângulo), clarinete e tuba. Vimos a alegria e vontade de conhecer, tocar esse gênero musical novo para eles. Foi um grande momento de interação entre os músicos. Aprenderam também o nosso grito de guerra: SOFIVA, HEY! UMA BANDA, UM SOM! Após o ensaio, era o momento de jantar com a família, de compartilhar costumes, experiências. O Café Rito foi, também, uma grande opção de convívio após os ensaios.
A recepção na Câmara Municipal da Albergaria-a-velha, concelho ao qual pertence a freguesia de São João de Loure, aconteceu no dia 15. Executamos, em formação de desfile, o dobrado Saudades de minha terra. Foi um momento mágico onde as pessoas na rua pararam para ouvir uma banda de música brasileira. Dentro da câmara, recebemos as boas-vindas do presidente da mesma e conhecemos mais pouco da história daquele concelho. Em 1117, da D. Teresa, rainha de Portugal e mãe de D. Afonso Henriques, doou terras ao fidalgo Gonçalo Eriz. Em contrapartida tinha de manter aberta uma Albergaria para acolher os viajantes pobres. Daí, originou-se o nome Albergaria-a-velha. Ainda dentro da câmara, executamos de forma emocionada o nosso hino nacional brasileiro. Logo após, fomos até um centro comercial da cidade, onde interpretamos Chamego só, de Rogério, o famoso Sergipe é o pais do forró. Os comerciantes ficaram admirados pelo ritmo, por tocarmos decorado e pela transmissão de alegria através da música. O uniforme vermelho de gala era também uma novidade a todos que nos assistiam. Ainda na sede do concelho, fomos até a biblioteca municipal aonde existia resquícios de um castelo. À tarde, conhecemos o Conservatório de música da JOBRA - Jovens da Branca, freguesia que também pertence à Albergaria. Assistimos um recital de percussão no auditório principal. Ficamos maravilhados com a estrutura do local e com as diversas aulas que observamos, imaginando algo do tipo em nossa cidade para estudarmos. À noite, fizemos mais um ensaio no Centro Cultural de São João de Loure. Foi um ensaio bastante proveitoso onde ajustamos detalhes de ritmo, afinação e sonoridade da banda para o concerto principal do dia 17.
            A SOFIVA foi preparada para fazer diversas atuações e para diferentes públicos. No dia16, tivemos a satisfação de tocar nosso repertório de forró para alunos de uma escola básica da freguesia. Alguns músicos, em meio à apresentação, ensinaram a dança do baião e xote aqueles alunos criando uma roda de interação grande entre público e banda. No final, as crianças experimentaram os instrumentos de percussão e conversaram com nossos músicos tirando dúvidas/curiosidades. No mesmo dia, fizemos uma apresentação de outras músicas de forró num Lar de idosos da freguesia. Foi marcante um músico da BVUS pedir para interpretarmos Cheiro da terra, do grupo Cataluzes, por ter sentido o poder contagiante de sua letra e melodia na apresentação pela manhã. Os idosos cantaram conosco o refrão Mirando as ondas do mar e batendo palmas no ritmo da música. Foi marcante! Fomos para mostrar a nossa música e o potencial de nossa banda, representar nosso país e sentimos estar no caminho certo. Mais à noite, às 21h começou o ensaio das duas bandas juntas: BVUS&SOFIVA. Foram duas músicas portuguesas e duas brasileiras. Ali vimos, principalmente, a característica rítmica, harmônica e melódica de cada país. Eram cerca de 80 músicos no palco. Aquela sonoridade transbordava a nossa alma. Alguns instrumentos de percussão que não tínhamos como tímpano e Bells mudavam completamente o som da banda.  Ao final do ensaio, uma charangada com músicas portugueses e brasileiras atravessou a noite, deixando a conhecer ainda mais sobre a característica de cada país e aproximando os músicos. Realmente a música tem poder transformador! Ficamos também impressionados como os ensaios são mais tarde se comparados aos nossos no Brasil. Apesar de exaustos, chegamos à casa no fim da noite, mas com uma sensação de tranquilidade pelas ruas da freguesia. Cada ser humano tem sua particularidade. Cada músico da SOFIVA aproveitou do seu modo, o convívio com os portugueses, compartilhando assuntos e materiais musicais, gírias numa crescente aproximação e entendimentos dos sotaques.
            Enfim havia chegado o grande dia 17. Logo pela manhã a SOFIVA saiu em desfile pelas ruas de São João de Loure seguidos pela BVUS. As bandas intercalavam os momentos de tocar. Era lindo ver os moradores animados e orgulhosos segurando bandeiras brasileiras e portuguesas. O desfile culminou no Centro Cultural. Onde houve um discurso do presidente da Junta, mas quem roubou a cena com seu discurso simples e emocionado foi o nosso querido Popó, que com seu jeito único de ser e falar conseguiu emocionar a todos os presentes. Em seguida tivemos um lindo momento entre os músicos das bandas, uma espécie de fanfarra luso-brasileira regada a muita dança: era a filarmonia em sua forma mais pura. Após o almoço coletivo houve um momento desportivo onde nós, como bons visitantes, deixamos ele ganharem no futebol de quadra. Finalmente chegou a noite e o grande concerto estava para começar, toda a cidade se mobilizara, o Centro Cultural estava lotado. Apesar da ansiedade havia uma certeza no ar, algo como se uma voz na cabeça de cada músico dizendo que vamos arrebentar. Na verdade é que fomos tão bem acolhidos ali que era como se estivéssemos em casa, no Brasil, em Itabaiana. A apresentação ocorreu de forma natural, tocamos e encantamos e teve ainda a estreia internacional do dobrado composto pelo nosso tubista Mário Neto. Em seguida as duas bandas se juntaram e tocaram algumas músicas. Lembram do Tamborzinho que encantara o maestro Arnaldo? Pois bem, a SOFIVA presenteou a BVUS com um. Era uma zabumba, muito comum para nós, mas completamente novo para eles. No dia seguinte as bandas ainda juntas tocaram e abrilhantaram uma missa na igreja matriz de São João de Loure.
No dia 19, último dia do intercâmbio, muitos músicos já estavam exaustos, mas ainda havia energia para mais uma aventura. A busca pela neve, saímos nos carros das famílias de acolhimento em direção à Serra da Estrela, ponto mais alto de Portugal, na esperança de que encontraríamos neve por lá. Após uma longa viajem com direito a pausa para almoço em um parque de Seia, finalmente chegamos à Serra da Estrela e aparentemente nada de neve, mas ao chegar no topo da serra encontramos uma pequena quantidade de neve, mas que foi suficiente para fazer a alegria dos brasileiros que em sua imensa maioria via neve pela primeira vez. Após voltar da Serra já era noite e a hora do adeus se aproximava. Era incrível como os laços feitos durante o intercâmbio eram tão fortes que muitos não seguravam a emoção e já choravam de saudades. Cada um dos 28 que foram representar a SOFIVA nesse intercâmbio tiveram experiências únicas e inesquecíveis e talvez conversando com eles vocês escutem histórias que escapam a esse texto. Experiências tão únicas que inspiraram nosso professor Natan e nossa parceira, a Professora Kadja, a escreverem uma pequena canção sobre a viagem “O destino pode parecer intangível/ mas começa com o primeiro passo/ acreditar no impossível/ sem perder o compasso/ a fronteira do mundo/ não bloqueia a imaginação/ a canção segue no ritmo/ embalada pelo coração/ valeu, foi bom/ tá tudo fixe/ valeu, foi bom/ uma banda, um som.” Por fim, uma coisa é certa, a SOFIVA volta de Portugal com um sentimento de dever cumprido, com a certeza de que sonhos podem sim tornar-se realidade, com amigos que ficarão para a vida toda e com a promessa de Portugal vir ao Brasil mais uma vez no futuro próximo, mas por motivos e interesses diferentes daqueles do século XVI. Agora a riqueza se traduz em trocas culturais. Valeu, foi bom. Dois países. Duas bandas. Um som!


Agradecimentos especiais: Arnaldo Barreto; Ada Jansena (O Boticário), professora Rose Chagas, prof. Jackson Trindade, prof. Marcos Moreira; Maestro Arnaldo Costa; Dr. Alex Sobral; Jamisson Barbosa (CDL); Luiz Carlos Santana (JSL), Edson Passos, Auxiliadora Passos, Wesley Vieira Santos (Ethos/Fort Pay), Carlos Alberto Bolero (Rotary), Marcelino (Acese), Jamysson Machado (Itnet), Júnior da Perfil, Srª Selma ( Irmandade das Almas); Prof. Eder de Jesus (Rotary), Seu Fefí, Dr. Olivier Chagas, Maria Vieira Mendonça, UNIT, Laércio Oliveira (Fecomércio); Dona Jô e Altamiro Brasil (Óticas By Brasil); Escola Mul. Benedito Figueiredo; Ana Peixoto (Shopping Peixoto), Metta Construtora, Padre Marcos Rogério (Paróquia de Santo Antônio e Almas); Alternativo Curso e Colégio; Alex (AABB); Conservatório de Música de Sergipe; Etelvina Almeida (Presidenta da BVUS); Sr. Joaquim da Silva Melo; Voo Viagens e Turismo. Imprensa: Revista Impactos; Jornal de Albergaria (Portugal); Anova Revista, Jaime da Perfil, TV Sergipe; TV Aperipê (Léo Costa); Rádio Cultura de Sergipe (Jairo Alves de Almeida); Itnet, FM Capital (Aninha Mendonça, Alex Henrique, Tiago Nascimento, Douglas Santos, Pereira Santos) FM Itabaiana (Gilson de Oliveira, Luciano Oliveira) FM Princesa (Beto Silveira, Edivanildo Santana, J. Júnior, Roberto Carioca, Gilvan Monteiro, Eugênio Santana; Rádio Princesa de Serra AM (Gilson Portela, João Menezes, Roosevelt Santana); Juarez dos Correios (Facebook); Vicente do Capunga (Facebook).

Comentários nas Redes Sociais e Notícias

Arnaldo Costa
, maestro português: “Não há palavras para exprimir o que todos sentimos com este intercâmbio, foi algo grande e onde para além de se escrever história se viveu uma amizade sem igual que irá ficar para sempre, ambas as bandas estão de parabéns e a música cumpriu a sua principal função unir as pessoas independentemente dos seus credos, línguas e hábitos! SOFIVA E BVUS DUAS BANDAS... UM SOM!!!”
Página Oficial da BVUS: “Muito obrigado SOFIVA pelo vosso calor e carinho, pela vossa amizade e pela vossa música contagiante! Foram realmente 9 dias de grande alegria que todos juntos nós passámos! 
Esperemos que tenham sido bem recebidos!
Aguardamos ansiosamente e com saudade o próximo encontro!”
Jackson Trindade, professor e cantor lírico: “Muito contente com essa realização”!
Gilberto Cardoso, suboficial da Banda dos Fuzileiros Navais: “Isso é uma Banda”!
Vicente Neto, músico, compositor e funcionário da CEF: “Orgulho nacional”!
Edezuita Araujo Noronha, ex-secretária de Educação e Cultura de Itabaiana: “Só orgulho...Sucesso sempre”!
Netinho ProSport, empresário: “Parabéns, muito orgulho”!
Beto Silveira, radialista: “Vocês nos representam. Merecem serem recebidos com honras de heróis pela população. Pena que a arte e a cultura sempre são relegados a último plano. Vida que segue!

Portal Itnet, 19/11/2018
“Sofiva de Itabaiana de apresentou em Portugal no último fim de semana”
Jornal de Albergaria (Portugal)
“Um som além-fronteiras: Banda Velha União Sanjoanense recebe SOFIVA (Brasil)”







[1] Colaborou: Anderson Almeida/ Publicado originalmente no Guia Comercial e Cultural de Itabaiana, 2019.

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